Capítulo 07
A Colônia
Minutos depois…
- Que lugar é esse? – disse Jorge Lúcio, ao abrir seus olhos.
Estava numa enorme sala branca. Sua arquitetura de linhas retas, sutilmente curva nos cantos, lembrava um santuário com que sonhara há muito tempo. Uma pequena névoa forrava o chão e um silêncio contínuo o incomodava profundamente.
Levantou-se vagarosamente e seguiu por um corredor extenso e frio. Nada de janelas. Nada de pessoas. Nenhum sinal de vida.
Caminhou por alguns minutos até chegar a um jardim suspenso e, sob ele, havia um lago natural como se fosse um extenso espelho d’água com um pequeno cardume de carpas coloridas e raras. Em sua superfície, um grande número de orquídeas, das mais variadas possíveis. Tudo era muito limpo e bonito.
Seguiu uma trilha de piso brilhante que o levava por uma pequena floresta cheia de pedras arredondadas, perfeitas como se fossem talhadas por mãos de artistas espirituais. Conduzido por uma estranha energia, chegou a uma linda praça onde encontrou seus amigos, Aline, Antônio, Júlio e Maria Lúcia.
Entreolharam-se com um terno sorriso e, apascentados por aquele tranqüilizante cenário, aproximaram-se, cumprimentando-se com o carinho de quem reencontra velhos amigos.
- Que surpresa é esta? – comentou Jorge Lúcio com simpatia.
- Pensei não vê-lo mais. – comentou Aline com o amigo recém chegado.
- Que lugar é esse, gente?
- Pensamos que você nos responderia essa questão. – afirmou Júlio, surpreso pela indagação do amigo.
- Eu nunca estive num lugar tão bonito. Parece um sonho para mim! Vocês já viram as cores do céu?
- Ah, minha querida! Há tanta coisa linda aqui embaixo para ver, que o céu me passou despercebido. – comentou Aline encantada.
Riram todos com o sincero comentário da moça.
- Sigam para a capela. – sussurrou uma voz distante em seus ouvidos.
- Vocês ouviram isso? – perguntou Antonio.
Todos confirmaram tê-lo ouvido. Seguiram juntos, a caminho de uma pequena cúpula que lhes parecia maior a cada passo, localizada ao centro de um enorme gramado. Quando se aproximaram, perceberam acenderem-se as luzes internas da cúpula central. Circularam por todo o lugar e não encontraram nenhuma porta de entrada.
Jorge Lúcio, admirado, tocou numa das paredes externas da cúpula e automaticamente seu centro recuou, como se as paredes laterais e o teto fossem uma peça só.
O ambiente central lembrava uma pequena capela católica, com uma cruz no alto do altar e todos os detalhes das peças que ornamentavam o lugar, que não tinha quaisquer tipos de imagens de santos, eram de ouro puro, prata muito brilhante, o centro forrado de diamantes e pedras preciosas.
- Surpresos? – dizia a voz invisível a seus olhos.
- Quem é você? – perguntou Jorge Lúcio.
- Como vai, meu rapaz?
- Estou bem. Mas, por favor: com quem estamos falando?
- Meu nome é Paulo. Eu sou o guardião desta colônia.
- Que tipo de colônia é esta? – perguntou Maria Lúcia.
- Uma colônia de recuperação espiritual, filha.
- Em que país nós estamos? – quis saber Júlio.
- Aqui não há país, nem bandeira, nem idioma. Aqui nós somos diferentes do local de onde vêem. Temos nossa própria constituição e nossas leis dependem de DEUS. Aqui, todos nós somos iguais em direitos e deveres. Nossa hierarquia foi formalizada por seres infinitamente superiores a nós e somos subordinados a suas ordens e vontades.
- De que material são feitas as suas paredes? Estes jardins são totalmente diferentes de tudo o que eu já vi antes. São flores naturais? – perguntou Jorge Lúcio.
- São plasmados, querido. Sua matéria não é comum a vocês. Por mais que eu tente ilustrar, não reconhecerão suas composições mais sutis.
- Tudo bem, mas o que fazemos aqui? – perguntou curioso e irritado Antônio.
- Sigam-me, por favor.
- Como faremos isso, se não o enxergamos?- indagou Maria Lúcia.
- Embora não me enxerguem, sentem minha presença. Sigam os seus corações.
Todos ficaram sem saída por uns minutos, até que Aline reconheceu uma energia a sua volta.
- Venham. É por aqui. – disse, convicta, a moça.
Caminharam por algum tempo, até que se depararam com uma torre de cristal transparente. Entraram por uma bela e brilhante porta que se abria ao centro e media cerca de cinco metros. No seu interior, um piso azul claríssimo acendia uma luz clara sob suas pegadas e os visitantes, de certa forma, se divertiam com isso. Foi o suficiente para que relaxassem um pouco e esquecessem a bela estranheza do local.
Aline, que tomava a dianteira de todos desde o primeiro instante da caminhada, parou diante de algo que parecia um elevador panorâmico. Aproximando-se da porta, sentiu o frescor aromado do ar puro que vinha da pequena floresta ajardinada do outro lado do prédio.
Puseram-se sobre uma rampa prateada e aquele elevador sem paredes subiu, circulando o prédio, mostrando toda a colônia da base do edifício aos confins do horizonte a sua frente.
As imagens que se viam eram impressionantes e multidão não havia que preenchesse tantas moradias, belamente plasmadas com estranha matéria. O silêncio foi quebrado de repente.
- Vocês viram isso? – gritou, assustado, Jorge Lúcio.
- O quê? De que está falando? – perguntou Antônio, segurando a sua mão.
- Vulto. Um vulto estranho que passou diante de nós! Ele tocou em mim.
Assustados, abraçaram-se, enquanto o elevador parava.
Suavemente, entraram numa imensa sala cor de rosa enfeitada por adereços dourados em suas bordas superiores de onde saía fumaça perfumada. O clima, em seu interior, era muito agradável e havia muita luz por todos os lados. Um violino espalhava por todo o ambiente uma música linda e desconhecida, de um ritmo jamais ouvido pelos visitantes.
Caminharam mais um pouco até que em um longo corredor se abriu uma imensa porta dourada, com um imenso brasão ao centro. Desconfiados, entraram de mãos dadas, até que se depararam com uma imensa mesa ovalada, e cadeiras enormes e confortáveis. No extremo da mesa, uma imensa cadeira chamava a atenção.
Sentaram-se, um a um, seguindo a sua intuição, conforme ressaltou a voz de Paulo. Bem acomodados, trocavam olhares em silêncio, aproveitando a profunda tranqüilidade proporcionada pelo ambiente tranqüilo e belo.
Pouco depois, entrou pela porta principal um homem jovem, de cabelos negros e estatura média. Andava descalço e suas vestes eram tão brancas que lhes ofuscavam as vistas. Sua figura transmitia sabedoria apesar da pouca idade e sua face inspirava confiança. Tranqüilo, dirigiu-lhes suas primeiras palavras.
- Sejam bem vindos, meus amados, a nossa querida colônia! Espero que tenham gostado de nossas acomodações e que se sintam em casa durante o tempo em que estiverem aqui. Como puderam perceber, esta colônia é realmente um lugar muito especial. Somos trabalhadores de Cristo Jesus, no propósito de restaurar vidas, tanto no campo espiritual, como em todo o vosso planeta. Alguém tem alguma pergunta a ser feita?
O silêncio se fez presente por algum tempo. Todos se entreolharam na expectativa de que algum se manifestasse a respeito de suas várias curiosidades, até que Aline não conseguiu se conter.
- Eu tenho. – disse a moça, levantando o dedo como nos tempos de escola.
- Diga, Aline. Sou todo ouvidos.
- O que exatamente viemos fazer aqui?
- A pergunta é importante e oportuna para o momento. Sua presença aqui se faz necessária por uma causa muito nobre. Temos uma importante missão para vocês.
Todos vocês participaram de uma busca muito especial. Há muito tempo foi perdida uma peça muito especial para a nossa colônia e esta peça é também muito importante para a continuidade de sua esfera planetária.
Na criação Divina todos os pontos são muito importantes um para o outro. Nada que existe no universo tem vida isolada. Tudo o que foi criado por DEUS tem importância para o conjunto de nossas mais variadas existências.
Como devem ter percebido, tudo em seu planeta tem dois ou mais lados, como por exemplo: o sol e a lua, o bem e o mal, o céu e o inferno, a noite e o dia e etc.
Se pararmos para pensar direito, para que serviriam estas coisas isoladamente? Como perceberíamos o som se não existisse antes o silêncio? Como saberíamos o que é o calor, sem ter o frio para compará-lo?
- Desculpe, Paulo. Mas, ainda não entendi aonde quer chegar. – interferiu Antônio.
- Bem. Vou ser mais breve e claro. Há mais de mil e oitocentos anos, perdemos uma peça de suma importância para a nossa colônia e isso tem nos gerado um forte desequilíbrio, por centenas de anos seguidos e seus reflexos começam a representar grande perigo para a Terra.
- O senhor pode nos dizer do que está falando? – completou ansiosa Maria Lúcia.
- Claro, querida! Estamos à procura do nosso precioso medalhão que foi extraviado e precisa ser encontrado para o bem de todos. A falta desse medalhão está desequilibrando o nosso plano e o vosso e a vida de todos corre risco neste momento.
- Eu não acredito que você nos tirou de nossa vidas para vir aqui ouvir uma baboseira dessas. Que medalhão que nada! Eu deixei minha família, minha igreja e meus irmãos para vir neste lugar estranho ouvir esta piada. Agora só me falta dizer que existe vida após a morte. Isso mais me parece coisa do demônio. – disse Antônio, bravo.
- Calma, rapaz! Deixe-o terminar. – pediu tranqüilo Jorge Lúcio.
- Esse medalhão tem para a nossa colônia um valor especial é de uma importância ímpar para a nossa existência. – continuou Paulo – sem este medalhão a existência de nosso planeta corre sério risco e a continuidade da raça humana será quase impossível.
Vocês foram escolhidos por seus valores individuais e porque cada um de vocês tem um ponto de crise idêntico ao nosso medalhão. Cada qual terá que se resolver durante o percurso e, conseqüentemente, superar os obstáculos que os impedem de serem felizes.
Todos se mantiveram calados, pensativos. Paulo prosseguiu:
- Agora vocês se recolherão a seus aposentos e estarão à vontade para decidir se continuarão ou não até o final desta expedição.
Cada um de vocês terá uma sentinela que os acompanhará até os seus aposentos. Eles estarão a sua disposição desde já para qualquer coisa que precisarem. Agora, podem se recolher. Nós nos veremos amanhã.
Saíram todos, calados. Pequenas luzes cintilantes tomaram a frente, levando cada qual para um quarto do tamanho de um apartamento luxuoso. Imensa tela cobria toda a parede oposta à porta de entrada. Os móveis, de cores claras e suaves, eram de um conforto sem par. Suas sentinelas se mantinham em silêncio.
Passadas algumas horas, as telas das paredes começaram a mostrar imagens de suas vidas passadas e presentes. Eram minuto a minuto informados de seus familiares.
Profundamente relaxados, descansaram até adormecerem confortavelmente, ninados por uma melodia constante e suave.
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