Capítulo 02
Reflexão
Durante muito tempo em minha vida, acreditei estar sendo perseguido ou injustiçado. Acreditava piamente que todos os outros estavam errados, e eu era o único certo. Que minhas verdades estavam sendo distorcidas e jogadas no lixo sem que fossem apreciadas.
Mas a vida nos impõe algumas pegadinhas que nos desequilibram e enfraquecem no momento em que acontecem. Porém, é a nossa ambição que nos envolve em nossas inverdades e que nos engana em vaidade.
Somos fruto de nossa própria criação e subjugamos todos os outros conceitos de existência. Acreditamos estar no centro de um universo escuro e profundamente solitário. É como se as estrelas não tivessem outra importância que não a de alegrar a nossa noite eterna. Desde a minha juventude, cometi erros dos quais hoje me arrependo profundamente. Às vezes, enquanto caminho pelas ruas desenvolvendo o meu trabalho de representante comercial, começo a me lembrar de atitudes infantis e incoerentes que hoje, com a bagagem de vida que possuo, não tomaria jamais. Mas, no deleite de uma vida plena de vontade de me corrigir a tempo e ajudar a construir um mundo melhor para a humanidade vindoura, entro num absurdo conceito de condenação pessoal e acabo com isso me enfraquecendo e demorando muito para tomar decisões importantes para mim e para os outros.
Precisamos, de vez em quando, fazer uma limpeza profunda em nosso armário mental, pois lá podem estar guardadas lembranças profundamente nocivas a nossa saúde e, com elas, podemos estar nos envenenando aos poucos.
Um dos pecados mais graves que podemos cometer é a maledicência com a vida alheia. O maldizer é um péssimo habito humano e não existe um só espírito sobre a terra que não cometerá algum dia esse pecado. Quando deixamos de procurar soluções para os problemas comuns a todos e paramos nossas vidas para cuidar da de outros, incorremos num crime contra as leis naturais do universo. Com uma frase-chave, JESUS nos deu um conselho que qualquer homem razoavelmente inteligente deve seguir sem titubear: “AMAI A TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO”!
Como seremos felizes, nesta ou em qualquer outra vida, se perdemos mais tempo vivendo a vida dos outros que a nossa própria? Como prosperaremos como espíritos e como pessoas, se não formos nós mesmos, mas uma maneira que criamos para enganar os outros? Não dá para representar o tempo todo, não é mesmo? Sendo assim, devemos parar urgentemente para nos conhecer e descobrir nossos valores pessoais e colocá-los em prática rapidinho.
Durante alguns dias, fiquei pensando naquela conversa que tive com aquele ser especial que me visitou no meu quarto. A princípio, o pensamento que me assaltou foi o de que ficara maluco sem perceber, mas conforme os dias passavam, comecei a perceber as mudanças que ele deixou em meu espírito e em minha mente.
No trajeto diário de trinta e cinco quilômetros de Suzano até Guarulhos, começaram-me a surgir coisas que até então eu não havia percebido. Coisas como o nascer do sol, a lua que se apresentava em alguns dias mais cedo de maneira bem clara, misturando dia e noite com duas estrelas tão especiais. Quantas coisas começaram a ter um valor mais relevante para mim, não que antes eu não o desse, mas agora era totalmente diferente.
Como um bom pernambucano, sempre adorei forró, mas a música clássica entrou suavemente em minhas veias e mudou o meu sangue para melhor. Voltei a gostar de pintar minhas telas, a querer assistir espetáculos de dança e teatro, era como se uma avalanche de prazeres sutis me abraçasse aos poucos. Mas, entre todas essas coisas, a necessidade de me tornar cada vez mais humilde era, sem dúvida nenhuma, o marco zero dessa nova geografia humana que despertara em mim.
“O homem não precisa de adornos, mas sim de essência!”
Esta frase se tornara uma constante em meu pensamento, a cada vez que a vaidade de mostrar para alguém em que estava me transformando. O meu espírito manifestava dentro de mim um profundo conhecimento que eu nunca teria conquistado por minha própria cultura, devido a uma vida de necessidades desde a infância, não podendo frequentar grandes escolas ou núcleos culturais bem-estruturados. Mas isso, na verdade, não importa muito, pois a base que um homem precisa para ser digno eu tenho: o orgulho de dizer que, quando criança, tive os melhores pais que alguém pode ter.
Comentei com minha irmã caçula, Silvaneide, sobre estas transformações e ela gravou para mim algumas sinfonias que tinha, pois é professora de crianças especiais e as usa nas atividades, como diz ela, com os seus bebês.
Minha irmã mal sabia o bem que estava a me fazer.
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