quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Como está a Educação no Brasil


Meu nome é José Sandoval. Sou um antigo profissional da área de vendas e, depois de algum tempo de experiências frustradas, tornei-me escritor.


Não digo "experiências frustradas" por achar que vendas não seja um bom mercado de trabalho. Na verdade, acredito que ser vendedor é uma das melhores profissões que uma pessoa pode ter. O vendedor nunca fica desempregado na vida, ele muda de empresa, de produto, de mercado, mas sempre, sempre será vendedor.


Contudo, eu não me sentia plenamente realizado na profissão.


A Educação

A minha relação com a educação começou num momento tardio da minha vida. Tenho duas irmãs educadoras e, não aguentando mais ouvir infinitas reclamações do descaso dos governos para esta sagrada área, procurei o máximo possível fugir desse meio. 


Um dia, um amigo me convidou para oferecer bolsas parciais de cursos profissionalizantes em escolas da rede pública de ensino. Na verdade, eu procurava uma nova motivação na minha vida. E não tinha a menor ideia do que iria me acontecer.
Aos poucos, fui me envolvendo com a atmosfera do ambiente escolar. Aos poucos, comecei a enxugar lágrimas de professores infelizes e cansados de ver as crianças sendo largadas à própria sorte, em todo o território nacional.
Depois de seis meses de trabalho, comecei a sentir-me incomodado, porque eu não podia dar essas bolsas parciais a todos os alunos que visitava. No dia do atendimento aos pais, muitos dos alunos que realmente precisavam fazer cursos a preços mais baixos não iam, porque não tinham recebido os convites que distribuíamos aleatoriamente, enquanto outros que haviam recebido jogavam seu convite fora, sem dar a menor importância.
Com o passar do tempo, decidi fazer alguma coisa que me realizasse novamente. Pensei novamente em mudar de área e buscar um novo caminho para minha carreira.
Foi quando me passou pela cabeça desenvolver um projeto novo, baseado em situações ocasionais que passei no Estado do Paraná e em dois municípios do interior de São Paulo: em Jaú e, principalmente, na minha querida Limeira. Nesses lugares, comecei a ministrar palestras sobre o Bullying. Havia um crescimento nas estatísticas sobre violência nas escolas, motivada pela intolerância no ambiente escolar. O assunto começava a me envolver de tal maneira que eu não conseguia parar de pensar nisso. Aos poucos, fui formatando um projeto, usando a minha própria experiência no ambiente escolar do passado, pois sou portador de uma doença conhecida como Síndrome de Tourrete.
No período escolar, eu sofria com as gozações dos meninos das escolas em que estudei. Por onde eu passava, zombavam ou imitavam os meus tiques. Na festinha de um amigo, ouvi uma vez seu pai perguntar para a mulher quem havia convidado esse menino perturbado, que parecia que tinha um demônio no corpo. Esse menino ao qual se referiam, na verdade era eu.
Aprendi que muita gente ao longo da minha vida iria perceber a minha diferença. Que muitos, apesar de serem meus amigos, iriam me desprezar de vez em quando, ter vergonha de mim. Agora, depois de adulto, comecei a diferenciar melhor, na minha cabeça, o que era responsabilidade da doença e o que era responsabilidade minha.
Voltando à Educação, percebi que muito do comportamento irresponsável e violento de alguns alunos da rede pública e particular vinha de uma infinidade de situações da vida, que não passava nem de perto pela responsabilidade da escola e dos professores em questão.
Descobri que muitas das situações de violência dentro do ambiente escolar não eram motivadas somente pelo descaso dos governantes brasileiros, mas sim, por descaso dos próprios pais dos alunos. Percebi que se tratava de falta de autoestima, somada ao abandono da família, que vem transferindo suas responsabilidades para o professor que, no meu modo de ver, não deve ser chamado de educador. Educadores são pai e mãe. Babá, avô, avó, tios, vizinhos... não têm a menor autoridade sobre essas crianças. Os pais que deixam para os outros as responsabilidades que são suas pagam depois um preço caríssimo por sua eterna omissão.
O papel da escola é de informar, direcionar e conduzir o aluno a um bom comportamento social de maneira abrangente. A obrigação da escola é, mais do que nunca, instruir essas novas gerações infinitamente ativas e curiosas, no esclarecimento do imenso número de dúvidas que lhes surgem sobre os mais variados assuntos que os pais, que não se atualizam, deixam para trás, sem respostas para os seus filhos.
Depois de um tempo de vida, muitos dos pais não procuram mais se atualizar com o mundo. Compram as televisões mais modernas que existem e as colocam diante de uma esponja cerebral que absorve tudo o que vê pela frente, sem o menor controle do que estão assistindo. Deixam sem respostas, por cansaço ou comodismo, esses seus mais preciosos bens, que são insubstituíveis na vida. 
Canso de ver, por onde passo no Brasil, ao sol do meio-dia, centenas de milhares de mulheres orando em suas igrejas, e seus filhos abandonados à sorte dentro de sua própria casa, preparando-se sozinhos e seguindo para as escolas sem a menor supervisão dos pais. Estou cansado de ver presídios cheios de filhos de pessoas religiosas. Enquanto essas tentam converter pessoas todos os dias nas ruas, nos trens, nas praças, deixam os seus filhos serem convertidos pelos traficantes que montam barraquinhas nas esquinas das escolas e só faltam pôr o nome da grife que produz a maconha ou a cocaína, vendida nos portões de entrada, nas quadras ou nos pátios dessas escolas por todo o Brasil.
Dentro dos seus portões, vejo diretores sendo ameaçados por bandidos sem piedade. Vejo e ouço várias histórias desses professores sendo levados em seus próprios carros por ladrões que os abordam numa estrada vicinal ou dentro do próprio estacionamento das escolas. Muitos deles ainda são levados para assaltar mercadinhos e depois abandonados amarrados dentro do seu próprio carro. O professor não pode comprar um carro novo em 60 parcelas por ter um baixo salário. No dia em que for ao trabalho com o carro, ganhará de brinde um retrovisor quebrado ou um belo risco de ponta a ponta na lateral do veículo.
Hoje eu, José Sandoval, autor de vinte livros, portador de oito hérnias na coluna, uma perna mais curta, uma escoliose de aproximadamente 2 cm, que teve três carros roubados em quatro anos, que não recebeu apoio de nenhuma editora e teve que produzir seus próprios livros e que vendê-los pelas ruas de São Paulo e grande São Paulo, no litoral do mesmo Estado, viajo por todo o território nacional levantando a autoestima de crianças e adolescentes. Esses alunos maravilhosos que riem com sinceridade quando eu canto a música do Kid Vinil que diz: “isso me dá tique tique nervoso...” e, depois que eu conto sobre as gozações que sofri por causa da doença, arrependem-se de ter rido disso. Esses meninos e meninas que, dia após dia, aproximam-se de uma realidade dura no mundo lá fora. Que terão que disputar vagas de emprego e, muitos deles, terão abandonado a escola após terminarem o Ensino Médio. Esses garotos e garotas, quando ouvem as histórias que conto ao final das palestras, se emocionam e se convertem, pelo menos naquele dia, a uma relação de paz e amizade entre aqueles que convivem todos os dias sem perceberem a importância de uns para os outros. Essas pessoas que precisam ser motivadas e influenciadas para o bem e que não querem voltar para a sala de aula após o final da palestra. E me pedem para falar mais um pouquinho de coisas básicas que meia dúzia de professores mal preparados e oportunistas deveriam dizer com sinceridade e amor. 
Vejo também que há professores esses que nem começaram a fazer suas faculdades, seja lá qual for, e já trabalham como substitutos, não tendo o menor interesse em seguir dignamente uma carreira honesta na Educação. É muito cômodo criar mecanismos de avaliação das faculdades no Brasil, enquanto alguns de nós, os alunos, deveríamos ser os maiores interessados e os primeiros a cobrar dos reitores uma qualidade melhor de ensino. Ainda há no meio acadêmico muita gente desinteressada. Ainda existem muitos querendo oferecer vagas e não ter responsabilidade nem compromisso com a verdade que vemos nas escolas brasileiras. Ainda há aqueles alunos universitários que não veem a hora de bater o sinal, para sair e tomar sua deliciosa cerveja no bar do outro lado da rua, e falar e fazer sacanagem depois da aula. Reclamam quando têm muitos trabalhos para fazer e protestam contra os professores universitários que exigem responsabilidade e compromisso no estudo, na intenção de formar profissionais de alto nível para a sociedade que se transforma e cobra qualidade dia após dia. Esses mesmos tentam tirá-los da escola, fazendo abaixo-assinados entre outros covardes e preguiçosos que se misturam no meio dos alunos que querem aprender de verdade, perturbando o bom andamento dos estudos. Não esperam o momento certo para curtir suas viagens após sua sagrada formatura. E muitos ainda usam as dependências da faculdade como motéis ou ponto de encontro para baladas.
No Brasil de hoje, poucos vão estudar de verdade,  muitos não têm valor porque não se prepararam para isso. Alguns deles não têm culpa disso, porque, assim como as crianças de hoje, quando crianças foram largados à livre escolha, sem opção real de vida. Hoje, infelizmente, não têm forças para mudar seu pensamento de comodismo e não se esforçam minimamente pelo que já conseguiram enxergar. Alguns entrarão no mercado para se arrependerem depois. Tomara que não percam a paciência de tanto cansaço e não molestem os inocentes que são todos os dias colocados sob os seus cuidados.
Se você não quer ser professor de verdade, desses seres humanos maravilhosos, se você não quer assumir assim o seu papel na sociedade que precisa tanto de você, escolha algo que tenha a ver com suas características pessoais ou com sua frequência mental e espiritual do momento. Deixem minhas crianças em paz. Elas não são bolas que vocês podem chutar de um lado para o outro como brinquedos sem dono. Depois não reclamem se a violência nas escolas os atingir algum dia.
Amem e sejam amados. O poder do amor faz toda diferença no aprendizado no dia a dia na escola. Olhem nos olhos dos seus alunos e descubram onde estão as suas dificuldades e limitações. Descubram onde possa haver algum sinal de violência que essa criança possa ter sofrido e que a faz ir mal nos estudos ou ser rebelde em algum momento. Se prestar atenção, verá a angústia no seu olhar. Você verá, querido professor, que pode se tornar o seu salvador. Você, querido profissional da Educação, tem uma importância muito maior do que pode imaginar.
Não se engane, não deixe que os governantes lhe convençam de que o seu trabalho não é importante para a sociedade. Não lhes dê razão, não aceite o pensamento dos idiotas que dizem que professora não é mal paga, e sim, mal casada. Esse tipo de político terá o que merece.
Senhor professor, não ligue para aqueles que não sabem o que dizem. Seja você o precursor de uma nova fase de vitórias na alma do mundo da Educação no Brasil. Desenvolva novos métodos de ensino, não para ser premiado por vaidade, mas para premiar as pessoas desse País com um mundo novo e cheio de oportunidades para todos.
Valorize-se. Cobre o justo em seu salário porque o professor tem que andar em carro novo, perfumado e bem vestido, ter uma ótima alimentação e morar na casa mais bonita da sua rua. Os profissionais que têm o poder de melhorar as pessoas não podem ser tratados como criminosos e apanharem da polícia, como cansamos de ver nos noticiários, quando estão em greve pedindo um ridículo aumento de salário. Logo a classe que merecia ter os salários que recebem os médicos, ministros e muitos políticos desse País.
Venham professores de todas as artes e matérias. Aceitem o meu convite para a felicidade desse País. Venham comigo, deixem que, nas minhas palestras para as nossas crianças, eu cuide da alma, e vocês, da instrução. Se, no final de tudo, pouca coisa parecer mudar ao nosso redor, não se desesperem. No meio da nossa missão, haverá aqueles que não querem mudar, ouvir e nem aprender com as circunstâncias. Não se preocupem, um dia eles serão úteis de alguma forma. Não podemos esperar que todos que nos ouvem entendam verdadeiramente a nossa mensagem.

Cuidem bem das minhas crianças!
                                                                  
José Sandoval


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